No intervalo de apenas quatro dias, dois agentes de segurança pública foram mortos no Maranhão. Um delegado executado durante uma operação. Um policial militar alvejado pelas costas em uma vaquejada. Dois crimes brutais, duas vítimas que dedicaram a vida à segurança da população. Mas, até agora, apenas um dos suspeitos está sendo tratado como tal.
No dia 6 de julho, o soldado Geidson Thiago, de 39 anos, foi morto a tiros em Trizidela do Vale. Testemunhas apontam como autor dos disparos o prefeito de Igarapé Grande, João Vitor Xavier, de 27 anos. O motivo? Uma discussão banal – dizem que começou por causa de farol alto. Geidson foi atingido pelas costas e morreu após ser socorrido. Quatro dias depois, em 10 de julho, o delegado Márcio Mendes foi assassinado enquanto cumpria um mandado de prisão em uma fazenda. O criminoso, Leandro da Silva Sousa, reagiu à prisão com uma espingarda, matou o delegado e feriu dois policiais. Leandro está foragido e é procurado intensamente pelas autoridades.
Nos dois casos, as vítimas estavam ou haviam atuado como agentes da lei. O crime contra o delegado é reconhecido como homicídio funcional – aquele cometido contra servidores públicos no exercício de sua função. O caso do soldado Geidson ainda precisa ser esclarecido, mas tudo indica que também foi uma retaliação ligada à sua condição de policial militar. Ambos são crimes graves. Ambos são crimes hediondos.
Mas há um problema que o cidadão comum já percebe: a resposta do Estado não tem sido a mesma.
Enquanto o assassino do delegado foi imediatamente apontado como alvo de uma caçada policial, com nome, rosto e histórico divulgados, o suspeito do assassinato do PM – o prefeito João Vitor – segue em liberdade. Há silêncio. Há hesitação. E o que deveria ser um caso de justiça, começa a parecer um caso de impunidade.
Isso é inaceitável.
A Constituição diz que todos são iguais perante a lei. E que matar um servidor público no exercício da função é um crime da mais alta gravidade. Mas quando um dos suspeitos é um político com poder, a justiça se move mais devagar?
O fato de o prefeito ter foro privilegiado não significa que ele está acima da lei. Apenas que será julgado por desembargadores do Tribunal de Justiça, e não por um júri popular. Isso não o isenta de investigação, nem de prisão preventiva, se houver provas e risco à ordem pública.
O povo não pode aceitar dois pesos e duas medidas. A vida de um delegado vale tanto quanto a de um policial militar. A justiça precisa ser cega à condição social ou ao cargo político do acusado.
Se Leandro, o assassino do delegado, precisa ser preso com urgência, João Vitor também. O Estado não pode punir com rigor quem mata um agente da lei no interior, mas hesitar quando o suspeito veste terno e tem aliados políticos.
É hora de cobrar. É hora de exigir respostas.
As famílias de Geidson e Márcio merecem luto digno. A sociedade merece justiça – sem distinção de classe, farda ou cargo.
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